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Monday, May 29, 2006

Concessão florestal exclui pequenas empresas

Paulo Leandro Leal
A Lei de Concessão de Florestas Públicas, cujo projeto antes da aprovação pelo Congresso foi motivo de muita polêmica, coloca agora o governo federal e os empresários do setor florestal em lados opostos. O motivo é o contrato proposto pelo Ministério do Meio Ambiente para aqueles empresários que desejam manter suas atividades na chamada fase de transição. O contrato provocou uma gritaria generalizada no Sudoeste do Pará, região responsável por grande parte da madeira exportada pelo Estado e que mais reclama da política ambiental do governo.
Os madeireiros dizem que o contrato é desleal e que fere de morte as pequenas indústrias instaladas naquela região, onde mais de 50% das serrarias já fecharam as portas. "Um contrato leonino, desonesto, injusto e que não veio para contribuir em nada", desabafa Luís Carlos Tremonte, vice-presidente do sindicato dos empresários e considerado porta-voz do setor junto ao governo. "Dos 198 projetos ainda suspensos na região, o governo pretende liberar apenas oito", diz o empresário, acrescentando que se sente traído. "Os pequenos apoiaram este projeto e agora levam uma punhalada pelas costas", reclama.
Os empresários madeireiros ligados ao Sindicato da Indústria Madeireira do Sudoeste do Pará (Simaspa) estão sendo orientados a não assinarem o contrato, porque a entidade argumenta não há condições de cumpri-lo. "É mais um absurdo que o governo nos propõe", lamenta Leocir Valério, que já fechou sua serraria em Novo Progresso. Para Tremonte, o contrato de transição indica que a nova lei irá mesmo excluir os pequenos e médios empresários da região, como temia o setor e parlamentares. "Não existe no Pará uma empresa de pequeno e médio porte do setor madeireiro que se enquadre no que sugere o contrato", diz Tremonte.
Antes animados com a possibilidade do fornecimento de matéria-prima legalizada para amenizar a crise do setor, os empresários agora lamentam terem apoiado o projeto de Gestão de Florestas. O Simaspa enviou documento à Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira do Pará (Aimex), relatando a situação e pedindo ajuda. "O governo mentiu, nos enganou, pois garantiu que o pequeno e médio produtor florestal seria privilegiado nos processos de licitação", diz Tremonte, destacando que o contrato é feito sob encomenda para multinacionais e as poucas grandes empresas madeireiras do país.
Com isso, aponta o sindicato, o governo federal, através do MMA, implantou uma espécie de ditadura verde no oeste paraense. "Impõem de forma cruel, desumana e covarde o desemprego, a fome e a miséria", acusa a entidade, que fez uma análise técnica do contrato antes de emitir qualquer opinião. "Chegamos à conclusão de que fomos enganados, quando o governo faz reunião ouve a população, mais não coloca em prática o que foi discutido, demonstra que estamos vivendo uma ditadura disfarçada", diz o parecer técnico do Simaspa.
O parecer destaca que o governo quer que os detentores de projetos que ficaram na área de expansão, ou seja, fora das reservas florestais, desistam da posse da área, pague a madeira e ainda concorra a uma licitação. "Não precisa pensar muito para chegar à conclusão de que os detentores não vão assinar este contrato", diz a entidade, explicando que as empresas não possuem áreas e sim projetos em parceria com os posseiros, mas que estes últimos já sinalizaram que não vão assinar o contrato.
O que mais dificulta a assinatura, segundo o parecer técnico, é o pagamento da madeira e principalmente como foram estabelecidas as normas para este pagamento. O item 1.1.1 do contrato prevê o pagamento das parcelas mensais da madeira que será retirada até o décimo dia útil de cada mês, começando pelo mês subseqüente àquele da assinatura deste Contrato. "Isso demonstra que a licitação não é para pequenas e médias empresas, considerando que hoje a situação financeira das empresas é desesperadora", aponta o Simaspa.
Essa especificação no contrato é vista como uma forma de eliminar as pequenas indústrias, como as instaladas atualmente ao longo da rodovia BR-163 (Santarém-Cuiabá). Estas empresas reclamam que problemas no cambio, nas estradas, a alta taxa de juros e falta de infra-estrutura portuária são problemas que aumentam a crise e que, por causa disso, as empresas não terão como efetuar o pagamento até o décimo dia útil, pois demoram até 60 dias para receberem pela madeira beneficiada. "O que se percebe é à vontade de exterminar as pequenas e médias empresas, as consideradas familiares", aponta o estudo.
O Ministério do Meio Ambiente argumenta que se os empresários assinarem os contratos, cerca de 40 planos de manejo terão condições de voltar a funcionar na região. O MMA concorda que o contrato é mesmo duro, mas avisa que é um indicativo das exigências que os madeireiros terão que cumprir em seus planos de manejo para terem acesso às áreas de florestas públicas que serão licitadas no próximo ano.

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